'... E sentimentos foram feitos para trazer contradição aos nossos atos.
Porque mesmo tudo que te faz bem, sempre há de te fazer mal.
Quando pensaram em escrever um diário, um grande diário, cheio de tudo que lhes preenchia as horas de solidão, não contaram com a difícil tarefa de lembrar também dos dias que já se foram.
Costuraram folhas escritas á pena e nanquim, e um livro bonito se fez.
Pensaram nos tempos em que ainda viam-se crianças, e cultivavam um jardim de sonhos.
Neste momento então, perceberam que ainda eram crianças...
Andaram correndo pelas mesmas estradas de terra que enfeitavam suas brincadeiras tão ternas.
E o sol ainda lhes queimava a pele como fazia antigamente, ainda lhes marcava um rosado eufórico às bobechas.
Pararam para pensar no instante em que reviviam.
E deste instante reconstituído, fez-se o mesmo sentimento de alegria inventada, temperada a nuvens artistas, que corriam pelo céu desenhando coelhos e imitando algodão doce.
Foi um instante de glória.
Como um prêmio merecidamente ganho pelo simples fato de terem sido inocentes um dia.
E sorrisos se fizeram...
Escondendo no canto de suas bocas, um beijo que ficou preso em meados de algum ano já esquecido.
Trocaram-se olhares.
Depois baixaram a cabeça em uma espécie de choro contido.
Um algo de arrependimento, por terem seguido em frente, crescido e esquecido da velha estrada de chão batido.
E foi aí que chegaram a idéia da contradição.
Porque tudo que um dia lhes fez tão bem, outrora lhes fazia sofrer de saudade.
E era um bom momento, uma bela descoberta, um momento escondido de vida bem vivida...
Um fim de um começo e um começo do que um dia seria um belo fim.