Hoje o que eu sentia eu não sabia dizer.
Acordei e senti que me faltava a voz, me faltava o ar, me faltava...
Eu resolvi dizer que a culpa não é sua.
Nada é culpa sua.
Na verdade, eu nem sei se existe uma culpa ou qualquer coisa que explique tudo aquilo que eu recuso sentir. Eu olhei lá fora e algumas crianças me sorriam. Fiquei pensando por quê eu não podia lhes sorrir também.
É difícil. E dói.
Dói como perder os pedaços numa estrada cheia de concreto e aço.
Eu perdi.
Eu desejei tantas coisas pra mim.
E desejar é tão errado.
Todo o desejo é pecado. Todo o pecado é maldição.
Eu desenhei tantas coisas pelo caminho. Mas você não entende nenhuma delas, não é?
Não é verdade que você não pode me ver? Não pode saber?
Existe um cansaço entre este mundo e eu, um cansaço tão grande, tão fundo...
Um abismo.
Existe um abismo entre esta vida e eu.
Me cansa estar de olhos abertos e não ver nada. Me cansa sentir o coração batendo no peito e não ter um remédio que o faça parar.
Parar de sentir.
Parar.
Porque sentir me dói tanto.
As vezes eu canso de sentir dor.
Eu ví um sol lá fora mas ele não me queima mais.
Não mais.
Não com suas chamas de ilusão, seus sonhos dourados, seus planos falidos, seus doces envenenados.
Eu ví uma lua lá fora mas ela não me encanta mais.
Não com suas promessas vazias.
Não com suas mentiras mal ensaiadas.
Mas afinal, o que é que eu quero?
Afinal, que diabos eu espero que aconteça?
Nada.
Nada.
Não há porquês. Eu só estou seguindo o roteiro. Só estou sorrindo com meu personagem mais bem criado. Meu personagem.
Aquele que nasceu dos meus próprios fracassos.
Aquele que me leva a lugar nenhum.
Eu não quero sonhos. Não quero promessas. Eu me sinto cansada.
Eu só quero dormir.
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